Hoje, uso a mesma citação para tratar do grave problema que atinge, diretamente, produtores da região da Baixada de Campos dos Goytacazes, RJ, e, indiretamente, a todos nós, consumidores do que eles produzem.
Aquela região já foi mar.
O homem foi ocupando tudo, ajudando a " empurrar" o mar.
Foi abrindo canais, fechando e desviando córregos, contaminando o ar, rios, solos e subsolos, impermeabilizando, modificando (demais) a fauna e a flora locais, e, com uma forte ajuda da aceleração das mudanças climáticas, deu no que deu: o mar virou sertão, em várias áreas de lá. Até da estrada é fácil ver.
"Não adianta chorar o leite derramado", dirão alguns.
Mas a história precisa servir como exemplo para cessarmos o que vem sendo feito errado e planejarmos melhor o futuro.
Aliás, este é o dever de todos, com relação aos ambientes.
Ou todos trabalhamos solidariamente, com humildade e desprendimento, para mudarmos os rumos e evitarmos mais desastres, ou só ajudaremos a piorar a situação.
Enquanto os que têm mais recursos próprios e mais ousadia continuarem atacando os ambientes da maneira que cada um pensa ser a melhor, quase sempre em (ilusório e temporário) proveito próprio e prejudicando outros produtores da região, aumentarão as brigas entre vizinhos e as pilhas de processos nas Delegacias de Polícia, no INEA e no Ministério Público: mais prejuízo ainda para a população em geral.
Há vazamentos em algumas comportas de descargas de canais. A Prefeitura de Campos tem colocado máquinas para retirar a vegetação que atrapalha a vedação em alguns pontos. Estes vazamentos, em períodos de marés altas, não são tão significativos.
Mas os vazamentos, com a água estagnada em níveis baixos, mais as altas temperaturas, que implicam em altas taxas de evaporação, a baixa umidade do ar e a visível injeção de água salina, do mar, por infiltração, para a Lagoa do Lagamar e para o Canal Quitinguta, em conjunto, aumentam a gravidade da situação.
Um dos claros problemas, então, é que os canais estão com os níveis baixos, inclusive em períodos de marés altas.
O quadro é de pouca água, estagnada, sem fluxo e sem ser renovada. Ainda por cima, só entra água das infiltrações, ocorre forte evaporação e os sais ascendem, naturalmente.
Para resolver este problema, o ideal seria o modo natural, com renovação da água e fluxo nas descargas.
Mas isto não depende de nós, simples mortais.
Daí ter ganho força no Comitê da Bacia (que é quem tem a palavra final), a ideia de se fazer, em período de maré baixa, uma descarga pelas comportas que apresentam os vazamentos, e se averiguar o real motivo dos atuais vazamentos.
O Corpo de Bombeiros vai ajudar, com mergulhadores.
Vamos sanar os vazamentos, mas, infelizmente, nas atuais condições não há como parar as infiltrações de água do mar.
Para recarga do nível dos canais com água boa, precisamos melhorar as aduções dos canais junto ao Rio Paraíba do Sul, com limpeza nas entradas e saídas dos canais Itereré, Coqueiros e São Bento e recolocação de bombas no canal de Cambaíba.
Não vamos medir esforços para fazermos a nossa parte. É nosso dever.
Solidariedade e co-operação, por parte de todos os atores envolvidos, também são fundamentais neste processo, que não dará solução rápida aos problemas mas pode amenizar o sofrimento daquela população e preparar o terreno, literalmente, para um futuro melhor para todos.